terça-feira, 2 de junho de 2009

CONECTADOS DESCONEXOS

Recebi hoje um email bastante interessante, que me fez pensar. E eu gosto de coisas que me fazem pensar. Contava o email, a história de um jovem muito arrogante, que estava assistindo a um jogo de futebol, quando resolveu tomar para si a responsabilidade de explicar a um senhor já maduro, próximo dele, porque era impossível a alguém da velha geração, entender a atual. -Vocês cresceram em um mundo diferente, um mundo quase primitivo - dizia o estudante, de modo alto e claro, para que todos em volta pudessem ouvi-lo. -Nós, os jovens de hoje, crescemos com Internet, celular, televisão, aviões a jato, viagens espaciais, homens caminhando na Lua, nossas espaçonaves tendo visitado Marte. Nós temos energia nuclear, carros elétricos e a hidrogênio, computadores com grande capacidade de processamento e... - interrompe numa pausa para tomar outro gole de cerveja. O senhor se aproveitou do intervalo do gole para interromper a liturgia do estudante em sua ladainha e disse: -Você está certo, filho. Nós não tivemos essas coisas quando nós éramos jovens... por isso nós as inventamos! E você, o que está fazendo para a próxima geração?
A pergunta é absolutamente pertinente. O que os jovens de hoje estão fazendo pra deixar pras gerações futuras? É triste, mas a maioria dos jovens que conhecemos, sem querer generalizar, não demonstra a menor vontade ou objetivo. Não têm interesse por nada que não seja o PC ou vídeo game. Até pra namorar são devagar. Essa coisa de "ficar", então, fala sério? São completamente alienados, e a tudo respondem automáticamente: -Hã? Já fez tal coisa? -Hã? Onde vc estava? -Hã? O que achou do filme? -Hã? Incrível, parece que falamos línguas diferentes e eles precisam de alguns instantes pra processar a informação. Mas experimente observar dois deles conversando sobre um jogo de vídeo game, ou sobre o Orkut: -Pô, véio, maior legal, véio! Firmeza, véio! Discorrem com uma rapidez impressionante, embora a conversa seja completamente desprovida de qualquer sentido. Isso sem falar que conseguem passar a maior parte do tempo desconectados do mundo real, pois quando não estão na frente de um PC, papeando ou jogando, estão com aqueles malditos fones MP3, 4, 5... enfiados nos ouvidos, com o som no volume máximo. O mundo pode acabar à sua volta, que nada os afeta. E este "sintoma" não é privilégio de nenhuma camada social em especial. Temos aí gangues brigando entre si em bailes funk, skin heads odiando minorias, nerds discriminando emos, etc, etc, etc. A qualquer um destes, se perguntamos o que querem ser, respondem com um "ainda não decidi". Puxa vida, a essa pergunta, nós já tinhamos uma resposta pronta, nem que fosse "presidente" ou "policial"... Opa, pensando bem, realmente entendemos porque não sabem o que vão ser... Infelizmente, nossos jovens acéfalos vivem num mundo completamente acéfalo, isolados de valores, e apenas refletem o que está na frente do espelho. Basta vermos as barbaridades cometidas pelos estudantes universitários, em trotes ou mesmo no dia a dia. Só pra dar curtos exemplos, vemos futuros veterinários, "jogando futebol" com um gambá, no pátio de uma universidade. Futuros médicos, ferindo e deformando calouros com ácido e outros elementos tóxicos. Futuros advogados e juízes, mostrando o traseiro em cima de viadutos. Outros, talvez futuros jornalistas, drogando, estuprando, filmando e fotografando tudo e colocando as fotos na internet, que eles tão bem dominam. Esta é a futura geração do nosso país? E grande parcela de culpa têm os pais, uma geração que teve uma educação mais repressora, e agora quer "aliviar" os filhos, com o argumento vazio de que não passem pelas mesmas dificuldades. Então vemos jovens morando em repúblicas - fazendo o inferno dos vizinhos do prédio - com carros zero nas mãos, curtindo verdadeiras férias o ano inteiro. Se formos parar pra pensar, veremos que, aqui mesmo em Poços de Caldas, uma cidade considerada universitária, tem uma festa de estudantes pra cada dia da semana. É uma beleza. Para os filhos, está bom demais, é só ir no banco no fim do mês, sacar a grana depositada, pra gastar na balada. O aluguel tá pago, o telefone tá pago, a tv a cabo e a internet estão pagas. Tem grana pra gasolina e pra balada. O que mais falta? Estudar e aprender pra que? Sabem que de uma forma ou de outra, sempre acabarão passando de ano, como acontece com os alunos do ensino médio, cujo sistema não permite a reprovação, independente de terem aprendido ou não. Afinal, a cada ano, a voraz indústria das universidades precisa ser alimentada, para continuar dando lucros altíssimos aos seus donos. Perdeu-se o foco, perderam-se os valores e qualquer referência. Perdeu-se o respeito ao professor. Perdeu-se completamente a noção. Para os pais, que passaram a quase totalidade dos seus dias, longe deles, trabalhando para que não lhes falte nenhum luxo, até pra compensar a ausência, também já está bom demais, se o filho se formar. Depois é só montar um consultório ou um escritório pra ele e pronto. Missão cumprida: aqui está mais um belo médico, dentista ou advogado, pra concorrer com mais centenas, completamente despreparados para a profissão, e o que é pior, para a vida. Então, fazendo a mea culpa, quando vemos aí, esta geração completamente alienada de tudo e de todos os valores, já sabemos que é por nossa causa, é por culpa justamente da nossa geração, que certamente não está sabendo lhes dar, primeiro, limites e regras claras de comportamento com valores morais e espirituais - já desde pequenos, quando vemos várias crianças usando chupeta e mandando nos pais - e segundo, não está sabendo lhes dar um rumo, uma perspectiva, e principalmente, um exemplo, seja na política, com cada vez mais escândalos, na sociedade, cada vez mais injusta, egoísta e desigual, e na própria família, com cada vez mais casais se separando e se respeitando cada vez menos. E, finalmente, constatamos que também não há mais ídolos em quem se espelhar. Antigamente, admirávamos o Pelé e o Zico. Hoje eles admiram o Fenômeno e o Imperador. Preciso dizer mais?

Um comentário:

  1. Como mãe de duas crianças, eu confesso que me sinto insegura quanto ao futuro deles, apesar de todos os dias e a todo o momento mostrar-lhes o quanto é importante se ter caráter. No mundo atual, com todo esse bombardeio de péssimos exemplos, acho o nosso papel de "pais-educadores" realmente difícil. Se hoje existem muitos jovens fazendo barbaridades é porque, infelizmente, a maioria deles não teve a oportunidade de ter bons exemplos. Digo a maioria, porque bem sabemos que alguns, apesar de todo o amor que são cercados, acabam tomando rumos inesperados.
    Estou fazendo a minha parte, e tenho a consciência tranqüila em relação a isso. Estou tentando educá-los para a vida, conscientes de seus papéis em relação ao mundo que os cerca. Como já disse antes, não é fácil, mas tenho certeza que essa é uma das minhas missões, talvez a mais importante.

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