sábado, 6 de fevereiro de 2010

ESCUTATÓRIA - Rubem Alves



Outra do genial Rubem Alves, aqui das Minas Gerais...



Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil.
Diz Alberto Caeiro que... não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia. Parafraseio o Alberto Caeiro: Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma. Daí a dificuldade...
A gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor... Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração..... E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor...
Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade. No fundo, somos os mais bonitos...
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64. Contou-me de sua experiência com os índios: Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. Vejam a semelhança...
Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio... Abrindo vazios de silêncio... Expulsando todas as idéias estranhas. Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos..... Pensamentos que ele julgava essenciais. São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.
Se eu falar logo a seguir... São duas as possibilidades. Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza.. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado. Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou. Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.
O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou. E, assim vai a reunião. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.
Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência... E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras... No lugar onde não há palavras. A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia... Que de tão linda nos faz chorar...
Para mim, Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.



"Se a gente cresce com os golpes duros da vida, também pode crescer com os toques suaves na alma... Nada faz sentido neste mundo se não tocamos o coração de uma pessoa."

SENSATEZ: A DITADURA DA BELEZA - Herbert Vianna


Mais uma pérola do Herbert, pra vc curtir.

Cirurgia de lipoaspiração? Pelo amor de Deus, eu não quero usar nada nem ninguém, nem falar do que não sei, nem procurar culpados, nem acusar ou apontar pessoas, mas ninguém está percebendo que toda esta busca insana pela estética ideal é muito menos lipo-as e muito mais piração? Uma coisa é saúde, outra é obsessão. O mundo pirou, enlouqueceu. Hoje, Deus é a auto-imagem. Religião é dieta. Fé, só na estética. Ritual é malhação. Amor é cafona, sinceridade é careta, pudor é ridículo, sentimento é bobagem. Gordura é pecado mortal. Ruga é contravenção. Roubar pode, envelhecer não. Estria é caso de polícia. Celulite é falta de educação. Filho da puta bem sucedido é exemplo de sucesso. A máxima moderna é uma só: pagando bem, que mal tem? A sociedade consumidora, a que tem dinheiro, a que produz, não pensa em mais nada além da imagem, imagem, imagem. Imagem, estética, medidas, beleza. Nada mais importa. Não importam os sentimentos, não importa a cultura, a sabedoria, o relacionamento, a amizade, a ajuda, nada mais importa. Não importa o outro, o coletivo. Jovens não têm mais fé, nem idealismo, nem posição política. Adultos perdem o senso em busca da juventude fabricada. Ok, eu também quero me sentir bem, quero caber nas roupas, quero ficar legal, quero caminhar, correr, viver muito, ter uma aparência legal, mas... Uma sociedade de adolescentes anoréxicas e bulímicas, de jovens lipoaspirados, turbinados, aos vinte anos, não é natural. Não é, não pode ser. Que as pessoas discutam o assunto. Que alguém acorde. Que o mundo mude. Que eu me acalme. Que o amor sobreviva. Cuide bem do seu amor, seja ele quem for.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

XENOFOBIA, O MAL DO NOVO SÉCULO: EUROPA ENCERRADA


Falo deste tema com a propriedade de quem nasceu em Portugal e passou sua infância em Angola. Apesar de meus pais terem saído do meu país para contribuir com o desenvolvimento de uma ex-colônia, muitos portugueses como nós, foram hostilizados ao retornar a Portugal, refugiados da guerra. Acusavam-nos, equivocadamente, de não se importarem com seu país, preferindo trabalhar para o progresso de outro. Esqueciam-se que era um país livre, onde todos têm o direito de imigrar para o país de sua preferência, tentando melhor sorte, sem que isso deva significar deserção ou falta de patriotismo. Afinal, sabe-se hoje, o mundo é um país. Sinto-me, portanto, à vontade para julgar que parece bastante hipócrita a tenacidade com que a Europa procura hoje evitar a chegada de imigrantes africanos, quando não são outra coisa que o resíduo patético das suas corridas coloniais de vários séculos.
Esperará por acaso a Europa que depois de séculos a saquear a África, despojando-a da sua cultura, dos seus recursos materiais e humanos, de injetá-la com a sua febre perniciosa de consumo, vai poder encarar o novo milênio como uma espécie de fortaleza artilhada e compacta em cujo interior todos são felizes enquanto que, no exterior, a fome e o desespero se alastram?
No conto de Edgar Allan Poe “A máscara da morte vermelha”, simboliza-se a futilidade da intenção do príncipe de se fechar no seu palácio a dar festas até que a peste passe. A morte acabou por entrar.
A Europa é rica graças, essencialmente, a tudo o que levou da África.
Por acaso esperam que os africanos famintos fiquem padecendo da miséria dos seus latrocínios enquanto as sociedades européias desfrutam dos altos níveis de qualidade de vida?
Acreditam, que é tolerável que quem os roubou, matou e violou centenáriamente venha a pontificar-se e a dar-lhes lições sobre moral internacional e direitos humanos?
Não se lembram, ingleses, dos massacres do Kenya ou dos despojos na Rodésia?
Não se lembram, franceses, o quanto roubaram em Dakar e na Costa do Marfim?

Não se lembram, alemães, dos campos de concentração na Namíbia e dos crânios do povo guerreiro dizimado que ainda conservam no Museu de Medicina de Berlim?
Não se lembram, belgas, das vossas atrocidades no Congo?

Não se lembram, portugueses, das vossas escavações depredadoras em busca do ouro de Angola, das vossas caçadas de escravos em Moçambique?

Não foi a vossa cobiça e a vossa vaidade ridícula, europeus, que regou com tanto sangue de crianças inocentes os diamantes da Serra Leoa?

E agora dão-se ao luxo de repelir estas barcaças de desesperados, de encerrar e de deportar os fugitivos que chegam às suas costas marítimas, porque até dão mau aspecto às suas glamorosas praias mediterrâneas.

Se a Europa fosse coerente com as suas próprias políticas de direitos humanos, teriam que acolher com os braços abertos todos os africanos e
pedir-lhes perdão por todas as ofensas,
oferecendo-lhes repartir aquilo que levaram das suas terras.
E o mais curioso, é que estes embandeirados pela angústia não pedem o que lhes pertenceria por direito.
Apenas pedem as migalhas de uma esmola, vender bugigangas nas praças, entregar jornais ou lavar automóveis... E mesmo assim não os querem…
É um espetáculo demasiado doloroso, demasiado triste que no centro da vossa grande civilização se mostrem os rostos obscuros das vítimas que o tornaram possível.
A vossa cegueira é admirável, a vossa hipocrisia é criminosa, a vossa baixeza é formidável.
Meditem longamente sobre o que estão a fazer, europeus.
Vós, que fizeram história, seriam demasiadamente estúpidos se esquecessem o que aprenderam.
Todo o poder de Roma não impediu a sua queda às mãos dos bárbaros famintos da Germânia e do Tártaro.

Toda a majestade da Bretanha se baixou sem atenuantes perante as massas hindus lideradas por um homenzito de aparência insignificante, mas com um grande coração.

Despertem do vosso sonho torpe e da vossa fantasia narcótica.

O mundo ruge desesperado à vossa volta.

Quanto mais tempo pensam que poderão fingir não ouvir?

A Europa deseja permanecer encerrada enquanto que uma África saqueada se desangra como a América Latina... Como o Oriente de segunda...
Não se pode aceitar que tanta beleza nas artes tenha surgido de corações tão duros...
Seguramente a Europa abrirá o seu coração, as suas portas...
Seguramente aprenderemos algum dia a tratar todos os seres humanos como iguais, porque se assim não for, estaremos aceitando os distintos genocídios ocorridos ao longo da história como feitos normais...

RECEITA FÁCIL PARA A PÁSCOA



BACALHAU COM CERVEJA

Quem não gosta de bacalhau, pode trocar por salmão, truta ou tainha.

Ingredientes:

Bacalhau em postas, azeite de oliva, azeitonas verdes, azeitonas pretas, pimentão, alho poró, cebola de cabeça, cebolinha, salsa, orégano, açafrão, manjericão, cominho, curry, alcaparras, champignon em rodelas, pimenta branca, batatas, sal, cerveja gelada e...

...MULHER.

Modo de Preparo:

Ponha a mulher na cozinha com os ingredientes e feche a porta. Beba a cerveja durante duas horas, depois peça para ser servido.

É uma delícia e quase não dá trabalho.




quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

ECOLOGIA: VERGONHA NA COSTA RICA

Como cidadão e ainda mais sendo ativista e sócio do Greepeace, não poderia deixar de denunciar aqui neste blog, mais este atentado absurdo contra o equilíbrio ecológico do planeta. Para um país que se diz eminentemente turístico, a Costa Rica está a mil anos luz de uma consciência ecológica mínima, especialmente das suas crianças, que são coadjuvantes no mesmo crime. O baixo grau de desenvolvimento econômico e cultural de um país, não pode justificar tais atos, em pleno 2010. É gritante o abismo que separa os países, mesmo desenvolvidos, em relação à consciência ambiental. No Japão se mata baleias indiscriminadamente, na Antártica, focas, na África, elefantes pelo marfim e enquanto isso, no Brasil, um velhinho aposentado da roça é multado em R$10 mil por manter dois canarinhos na gaiola. Não quero dizer que o Brasil esteja errado em ter legislação ambiental tão rigorosa, mas no mínimo, algo deveria ser feito para equilibrar isso a nível mundial.













A venda dos ovos serve como fonte de renda a comunidades pobres da região litorânea. Vamos divulgar. É preciso fazer algo urgente.