Fica frio...
É só um
cromossomo extra!
Vivemos acostumados a rotular de diferente tudo o que não se encaixa no nosso padrão comportamental. Tendemos a assumir posturas simplistas, onde simplesmente excluímos quem não é igual a nós, ou quem nos parece que pensa de maneira diferente, julgando-o inferior, ignorando que existem inúmeras formas do ser humano se manifestar. Com frequência pré-julgamos sentimentos, opiniões e comportamentos, com a arrogância de quem detêm o conhecimento da verdade absoluta e o conceito do que é certo e errado. Não raro, ignoramos com prepotência, que a imposição de padrões de "perfeição", por si só configura prática quase nazista, título que, hipocritamente recusamos. E assim, vamos cercando a nossa sociedade de preconceitos, velados e explícitos, que a influenciam de maneira nefasta, produzindo conceitos que, de tão arraigados, se tornam quase leis. É o que acontece, por exemplo, com as pessoas que possuem a Síndrome de Down, cujo Dia Internacional vem sendo lembrado desde 2006, sempre em 21 de Março (21/3) em alusão à trissomia do cromossomo 21, como também é conhecida. Certos pais despreparados chegam ao cúmulo de desistir de criar um filho que, para seu desespero, nasce com essa característica. Alguns desses pais necessitam de muito mais ajuda do que o próprio filho que julgam ser “deficiente”. Afinal, como falar em inclusão na sociedade, se já no seio familiar, ao nascer, essa criança é rejeitada? Felizmente, a imensa maioria dos pais acaba por superar as dificuldades iniciais e relata que a experiência de criar uma criança down é absolutamente transformadora, considerando que receberam uma verdadeira bênção. As pessoas que possuem esta característica têm inúmeras habilidades e dons, estando capacitadas a levar uma vida quase normal. Este "quase" deve-se justamente a este padrão que impomos ao que difere de nós. Mas quem sabe dizer exatamente o que é normal? É claro que estas pessoas têm limitações, mas quem de nós, os "normais", não as tem? Quem tem o privilégio de conviver com um down, logo percebe o quanto o conceito de normal é abstrato e relativo. Crianças down são carinhosas e receptivas e se transformam em adultos inteligentes e capacitados a desempenhar funções e profissões em diversas áreas de trabalho. Têm dons artísticos e esportivos natos, que encantam pelo talento e pela sensibilidade. Filhos down têm ainda uma característica especial, que os fazem realmente diferentes da maioria de nós: conseguem demonstrar com facilidade o reconhecimento e a gratidão pela dedicação que recebem dos pais, por toda a vida. Ao contrário de nós, ditos "normais", as pessoas down não têm a menor dificuldade, não têm vergonha de expressar o seu amor. O amor pelos pais, o amor pela vida. São infinitamente gratos pela maravilhosa oportunidade que tiveram de viver e acham este mundo, simplesmente maravilhoso. Sim, as pessoas down são felizes. As pessoas down, na verdade são up. Elas são sempre pra cima. Por isso, têm tanto a nos ensinar e a nos fazer refletir. Com eles aprendemos que a evolução espiritual não caminha junto com a evolução material. Aprendemos que, não raro, baseados em padrões e conceitos duvidosos, julgamos erroneamente as pessoas pela posição que ocupam na sociedade. Assim, deixamos de valorizar quem, muitas vezas, está vários degraus acima de nós. E deixando de valorizar, pela nossa própria incapacidade de entender e identificar, perdemos também a valiosa oportunidade de aprender com estas pessoas, atrasando um pouco mais a nossa própria evolução. Por tudo isso, entendo que, para benefício dos próprios "normais", o mais adequado é manter a pessoa down sempre integrada na sociedade, seja na escola, enquanto criança, seja no mercado de trabalho, quando adulta. Além de fazê-la sentir-se à vontade, preparando-a melhor, integrar uma criança down numa sala de crianças tidas como "normais", vai certamente passar valores e conceitos importantes aos seus coleguinhas, especialmente numa idade em que ainda há pureza, e o caráter e os valores ainda estão se formando. E nessa rica troca de experiências entre crianças down, seus colegas "normais" e professores, com certeza só há ganhadores. Num sistema onde os alunos “normais” são praticamente analfabetos e onde não é permitido reprovar de ano, independente do desempenho, como afirmar que uma criança down não conseguirá acompanhar o aprendizado dos demais colegas? Tudo o que ela precisa é de apenas um pouquinho a mais de atenção e dedicação do professor. Mas, e quem não precisa? Se for preciso um reforço na aprendizagem, o que tem demais? Quantas crianças “normais” não ficam para recuperação e necessitam de aulas de reforço e até de professores particulares para ajudá-los? O que é normal, afinal? Será normal uma criança que comete um crime bárbaro ainda na mais tenra idade? Serão normais crianças que assassinam cruelmente os próprios pais? É normal um adolescente que incendeia mendigos nas ruas numa madrugada fria? São normais os adolescentes que estupram uma colega, filmam tudo e divulgam as imagens na internet? O adolescente viciado que assassinou a própria mãe para roubar e comprar drogas, é normal? E serão normais os adultos que matam a sangue frio e sem chance de defesa? E os pais “normais” que matam seus próprios filhos, ainda bebês? É normal a tortura, a guerra, a fome, a miséria, a corrupção e a ganância? Será que uma sociedade em que se cometem tamanhas atrocidades, pode se auto denominar normal, superior a outras? Diante de tudo isto, quem é down, afinal? Como podemos ter certeza de que, em algum lugar do universo, não existe um mundo habitado por pessoas down, com uma sociedade "perfeita" como a nossa, onde pessoas "normais", como nós, é que são diferentes? É bem possível que esse mundo down seja consideravelmente mais puro e evoluído do que este nosso planeta, tão degradado moral e espiritualmente. E enquanto isso, as verdadeiras aberrações e bizarrices, passam a ser consideradas normais, quando, indiferentes e egoístas, nos tornamos mais permissivos e impuros a cada dia. Nós é que somos down, somos “pra baixo”, vivendo numa sociedade cada vez mais rasa.
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Portal Síndrome de Down:
http://www.portalsindromededown.com