De vez em quando, tenho a mania
de reler jornais e revistas de alguns meses atrás, com o intuito de comparar as
expectativas da época com o que de fato acabou se concretizando hoje. Quando
comecei a ler noticias sobre o processo do mensalão, num jornal de agosto deste
ano, fiquei chocado ao perceber o desenrolar das “previsões”. Nem a Mãe Dináh
seria tão profética. Um dos textos afirmava que a discussão sobre o caso do
deputado Bispo Rodrigues, que levou ao bate-boca entre o presidente do Supremo
Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, e o ministro Ricardo Lewandowski, na verdade
tem a ver com o caso de um cardeal político, o ainda todo-poderoso petista José
Dirceu. Bispo Rodrigues, que hoje não é mais líder religioso, foi condenado na
primeira fase do julgamento, a seis anos e três meses de prisão, por corrupção
passiva e lavagem de dinheiro, no entanto, se o Tribunal aceitar a tese
levantada pela defesa de que ele deveria ter sido condenado por uma legislação
mais branda sobre corrupção passiva, em vez de pela nova legislação que entrou
em vigor em novembro de 2003, outros casos de corrupção, inclusive ativa,
poderiam ser revistos. A alteração do Código Penal que aumentou o rigor das
penas de corrupção ativa e passiva teria, na concepção da defesa, ocorrido
depois que o crime de corrupção passiva de Bispo Rodrigues, havia sido
consumado, e o STF não teria levado em consideração essa mudança de tempo,
adotando a legislação atual, mais dura. A questão é que o momento do ato da
corrupção foi entendido pelo plenário do STF, por unanimidade no caso de Bispo
Rodrigues, como tendo acontecido na vigência da nova lei, e não, como quer a
defesa, no momento da primeira reunião para tratar da negociação, acontecida
antes da nova legislação. Porém, as declarações do embargante revelaram-se
inverídicas, já que, nas investigações do ministério público, que contam com
farta prova documental e testemunhal, não foram encontradas provas de que
Rodrigues participou dessa reunião. Da mesma maneira, o ex-ministro José Dirceu
poderia ter interpretados seus atos criminosos em diversos períodos de tempo,
beneficiando-se de uma redução de pena, se a legislação a ser utilizada fosse a
antiga e não a nova. Prosseguia a notícia afirmando “que esta manobra seria uma maneira de alterar a pena
de Dirceu, livrando-o da prisão em regime fechado sem nem mesmo precisar dos
embargos infringentes que, ao que tudo indica, seriam rejeitados pelo
STF.” Com relação aos embargos, a previsão não se concretizou, mas quanto ao
regime da pena ter sido alterado para semi-aberto, foi exatamente isso que
acabou ocorrendo, sem muita surpresa, porém. E prossegue o texto, afirmando “que
essa questão, aliás, já havia sido superada na recusa dos embargos de
declaração do delator do esquema, o ex-deputado Roberto Jefferson, que queria
uma redução da pena, alegando justamente que as negociações para o recebimento
do dinheiro teriam começado antes de 2003, quando vigorava a legislação
anterior. Como o caso fora rejeitado, provavelmente o mesmo aconteceria com o
recurso de Bispo Rodrigues e o presidente do STF não precisaria se desgastar
com o bate-boca com Lewandowski. No entanto, ele viu na insistência deste em
trazer novamente o assunto à discussão, no mínimo uma tentativa de retardar o
resultado final. De maneira sínica e até jocosa, Lewandowski disse que se
arrependeu do voto dado no ano passado, quando concordou com a pena mais rígida,
argumentando que tem o direito de rever eventuais equívocos e ainda perguntou a
Barbosa, porque este estaria com pressa em julgar. Barbosa argumentou que os
embargos de declaração não servem para rever provas, reclamou que o voto de
Lewandowski atrasou seus planos de concluir o julgamento dos embargos e, sem se
retratar, acusou o colega de não respeitar o STF e fazer chicana. Na ante-sala
do plenário, para onde a discussão se prolongou, foi possível ainda ouvir a
palavra palhaçada. O bate-boca com Lewandowski - episódio que, a meu ver, é o
mais revelador de todo o processo do mensalão - é um prosseguimento das
disputas ocorridas na primeira fase do julgamento, quando o ministro revisor
fez um contraponto permanente à posição do relator Joaquim Barbosa.” Prossegue
o texto, afirmando que “é do conhecimento de todos que paira no ar uma forte desconfiança
de que existem em andamento nos bastidores do tribunal, manobras protelatórias
para evitar a rápida conclusão da fase de embargos de declaração, ou mesmo de
aproveitá-los para alterar (leia-se diminuir) algumas penas. Nesta fase de
embargos, mesmo não existindo a figura do revisor, Lewandowski prossegue na
tentativa de revisão, com votos muito longos, mesmo para concordar com o
relator, numa clara tática para postergar a decisão final. O ex-revisor do
processo do mensalão foi acusado, na primeira fase, de alongar seus votos com o
objetivo de tirar do julgamento os ministros Cezar Peluso e Ayres Britto, tidos
como votos contrários aos mensaleiros.” Hoje vemos que estes dois ministros
foram substituídos por Roberto Barroso e Teori Zavascki, ambos declaradamente a
favor dos mensaleiros. Estes e outros ministros, claramente posicionados a
favor dos mensaleiros, argumentam que o processo tem que ser julgado de forma
isenta da pressão das ruas mas, paradoxalmente, decidiram despir a toga e ir
para a arquibancada - infelizmente, para o lado errado da torcida. Roberto
Barroso, realmente chegou com tudo: minimizou o processo do mensalão, ao
afirmar que este não foi o maior escândalo de corrupção e desvio de dinheiro
público da história do país e afirmou que corrupção é um mal em si, induzindo a
opinião pública a julgar que sem a reforma política tudo continuará como antes.
Ora, uma coisa é o uso dos recursos roubados para fins políticos - sem dúvida
culpa do nosso sistema - e outra coisa é o uso desse dinheiro em benefício
próprio, como fizeram os réus do mensalão. E não parou por aí: depois de
afirmar que o julgamento era meramente político, acrescentando que ninguém deve
supor que os costumes políticos serão regenerados com direito penal, repressão
e prisões, Barroso ainda criticou abertamente os colegas, por achar as penas
imputadas aos réus, na primeira fase do processo, severas demais. Deste modo, a
configuração do STF foi substancialmente alterada, e a maioria, que antes era
contra os mensaleiros, passou a ser composta por ministros que defendem penas
mais brandas. Se nos atentarmos ao fato de que a maioria dos ministros do STF
foi nomeada pelo ex-presidente Lula e que exatamente estes dois ministros
novatos foram nomeados por Dilma, hoje chegamos à conclusão inevitável que as
previsões da época, por mais surreais que parecessem, estavam corretas e fica
claro que as manobras para minimizar a condenação dos petistas, partem do
ex-presidente Lula e sua comandada Dilma Roussef. Não podemos nos esquecer
ainda, que o delator do mensalão, deputado Roberto Jefferson, acusou também o
ex-presidente Lula, no mesmo balaio de todos os outros réus já condenados e, no
entanto, este fato foi sistematicamente ignorado, tanto pelo Ministério Público
como pelo STF, que mantiveram a blindagem do líder petista. Agora vemos irem
para o ralo da impunidade, reivindicações legítimas do povo nas ruas, quando as
manifestações ainda não haviam sido esvaziadas pelos Black Blocs. O que vemos
agora tem pouco a ver com as manifestações da sociedade, em junho, cujos
propósitos vinham sendo entendidos pelas autoridades do país que, mesmo a contragosto,
se viam obrigados a tomar providências. Hoje, grupelhos mascarados fazem com
que o caminho do protesto beire a anarquia e a insensatez, em uma manobra que parece
ter a ver com quem tem interesse em que as coisas fiquem exatamente como estão.
A PEC dos mensaleiros, presente em vários cartazes pelas ruas, que faria com
que a cassação fosse automática, acabando com o contrassenso de um parlamentar
condenado pelo Supremo continuar parlamentar, legislando de dentro da Papuda, não
deu em nada. Diante desse corporativismo que impede que um deputado casse o
colega, o STF se considerou competente para dar a última palavra. Para termos
uma idéia do poder dos mensaleiros da cúpula do PT, hoje vemos o Congresso
desautorizando o Supremo, afirmando que é ele quem dá a última palavra na
cassação de um deputado. E para coroar o circo de horrores, petistas mensaleiros
que já tiveram suas penas reduzidas e modificadas do regime fechado para
semi-aberto, posam de presos políticos e heróis nacionais, numa manobra tão bem
orquestrada pelo ex-presidente Lula, que já foram beneficiados pela progressão
de pena durante o julgamento. É sem dúvida a mais rápida “progressão de pena”
de que se tem notícia, ocorrendo já durante o julgamento. Mas que julgamento?
Como podemos confiar na instituição da mais alta corte da justiça brasileira? Depois
de oito anos de julgamento, o cidadão comum - eleitor, contribuinte - está se
lixando para as vozes empostadas, as frases de efeito, as expressões em latim e
outros arroubos jurídicos. Quer mesmo é ver os ladrões do dinheiro público, os
condenados, atrás das grades e devolvendo o que roubaram. Espera este cidadão
que o STF dê uma demonstração exemplar de punição, deixando bem claros os novos
rumos do país, que não suporta mais tanta impunidade. Se a Suprema Corte for
subserviente às manobras do governo lulopetista, o que será da Justiça? Para a
maioria dos brasileiros honestos, que não roubam dinheiro público, o fim do
julgamento do mensalão com a prisão dos culpados não significa o fim de um
começo - como afirmou na época o ministro Barroso – mas o começo de um fim.
Humor, Notícias, Curiosidades, Poesia, Opinião, Política acima de Ideologias e Espiritualidade acima de Religiões, com o propósito elevado de ajudar a REVELAR A VERDADE e AMPLIAR A CONSCIÊNCIA, num momento crucial de depuração e regeneração do Planeta Terra, quando somos chamados a nos posicionar e lutar para defender o que acreditamos...
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
EIKE, À BEIRA DO MAIOR CALOTE DA AMÉRICA LATINA, CONSEGUE EMPRÉSTIMO NA CAIXA!
Tente fazer um empréstimo na Caixa para você ver a quantidade de
exigências. No entanto, o
cidadão está devendo onze
bilhões. Será que o nome dele já está no SPC e SERASA? Vifes do Vrasil...
O The New York Times
noticiou que a OGX,
empresa âncora do grupo EBX, de Eike Batista, informou à
Justiça do Rio que sua dívida total é de 11,2 bilhões de reais. De acordo com o jornal americano, a quantia faz com que o
pedido de recuperação judicial da empresa represente o maior calote da história da
América Latina.
Essa derrocada das empresas de Eike Batista também já
teve impacto em projetos anunciados pelo empresário para a cidade do Rio e em
compromissos ambientais do Grupo EBX com o governo estadual. A reforma
do Hotel Glória, modernização e despoluição da Marina da Glória, criação do
Parque Estadual Lagoa do Açu e uma solução apontada como definitiva para
recuperar a Lagoa Rodrigo de Freitas são alguns dos projetos ameaçados. Além
disso, o Grupo EBX comprometeu-se a doar R$ 20 milhões por ano
até 2014 para a implantação de UPPs em todo o estado do Rio. No caso da reforma do Hotel Glória, após
pegar R$ 200 milhões de uma linha de crédito do governo federal com condições
especiais para a Copa de 2014, o Grupo EBX tenta agora se desfazer do
empreendimento sem concluir a obra. Após sucessivos atrasos na previsão de
inauguração do hotel, a REX, empresa imobiliária do grupo, afirma que busca uma
empresa de hotelaria internacional para assumir a empreitada, e que ajustes no
projeto podem atrasar mais uma vez o cronograma de entrega da obra financiada
com dinheiro público.
Mesmo assim, a OSX, braço de
construção naval do grupo EBX, conseguiu renovar um empréstimo de R$ 400
milhões com a Caixa Econômica Federal, assim como sua garantia, repetindo o que
já havia feito com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), em Outubro.
Conforme a própria Caixa
informou na terça-feira (05) à noite, o empréstimo renovado venceu no dia 19 de
outubro e foi estendido por mais 12 meses, assim como sua garantia, uma fiança
bancária do Santander Brasil que cobre 100% do empréstimo. A OSX tinha dívidas
de R$ 5,3 bilhões até junho, com R$ 1,1 bilhão na Caixa Econômica Federal,
segundo a agência Reuters. Juntos, Caixa e BNDES detinham R$ 1,7 bilhão da
dívida total. Com essa dívida, o processo da OGX é considerado o maior
"calote" corporativo da história da América Latina. No ano, as ações
da OSX já registram queda de 95%.
Numa resposta à notícia divulgada pelo jornal "O Estado de S. Paulo", dando
conta que o BNDES teria alongado, de forma privilegiada, o prazo das dívidas pendentes do grupo X, o banco
rebateu, em comunicado, que tenha concedido vantagens ou tratamento
privilegiado nas concessões de financiamento ao grupo.
Em maio de 2011, com uma
fortuna estimada em US$ 30 bilhões, Eike
disse que se tornaria o homem mais rico do mundo até 2015, mas, como vemos,
o sonho tem ficado cada vez mais distante.
Diante de tudo isso, cabe
indagar se o nome do megalômano empresário já consta no cadastro do SPC e
SERASA. Creio que com uma dívida destas, deveria constar. E enquanto isso, os
brasileiros comuns, trabalhadores honestos, correm para pagar suas “merrecas” e
“limpar” seu nome para poderem fazer as comprinhas de natal no final do ano, no
crediário das Casas Bahia... Realmente, Vifes do Vrasil...
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
SINAL DE CELULAR É MUITO MELHOR NA CADEIA!
Olha a anedota de vrasileiro, fresquinha!
Estudo concluiu que a qualidade do sinal de celulares no Rio Grande do Sul é muito melhor dentro dos presídios do que em quaisquer outros locais, como hospitais, delegacias, shoppings e, claro, nas ruas e nas casas de qualquer cidadão. Há o caso bizarro em que o delegado precisa sair do prédio da delegacia para conseguir falar no celular. É óbvio que esta situação deve se repetir em outras regiões do Brasil, é só estender o estudo. E vocês ainda falam de Portugal? Tá bom... Enfim, Vifes do Vrasil...
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
MESTRES BLOCS: O DINOSSAURO QUEBRA O OVO
Fui assistir recentemente em Belo Horizonte, a uma exposição
das obras do pintor Cândido Portinari, no Cine Teatro Brasil. Tive a honra de
conhecer, entre outras obras, os famosos painéis gigantes Guerra e Paz, que se
encontravam no prédio da ONU desde 1955 e agora, graças ao Projeto Portinari,
vão inicialmente para Paris e depois percorrer o mundo, antes de serem
devolvidos ao lugar para o qual foram executados sob encomenda. Ao final da
exposição pude conhecer melhor as imensas dificuldades para desmontar e trazer
para o Brasil os dois painéis para restauro, num trabalho de extrema
competência em nível internacional, não só de técnicas de restauração, como
também de logística e transporte. Inegavelmente, um orgulho para o Brasil,
tanto quanto à obra, como quanto à restauração. E enquanto percorria os salões
da exposição, extasiado pelas belíssimas obras, me peguei imaginando uma cena
dantesca: os Black Blocs destruindo aquele lugar. Mascarados indóceis,
destruindo os sete andares do prédio histórico recém restaurado de forma
irrepreensível, num processo que demorou anos e consumiu alguns milhões de
reais. Caras tapadas de preto, quebrando e queimando aquelas esplêndidas obras
de Portinari, num pretexto vazio de uma manifestação qualquer. No meio da minha
divagação, foi-me impossível deixar de pensar na imbecilidade de um movimento
assim. Num momento em que os valores parecem ter sido subvertidos, é impossível
aceitar a idéia de que chegamos a um ponto de ter que defender o óbvio, o
correto. Tenho dificuldade em entender como algumas pessoas - muitas inclusive,
tidas como intelectuais, como o cantor Caetano Veloso - defendem
incondicionalmente estes indivíduos. Argumentam os integrantes de grupos
anarquistas como os Black Blocs e os Anonymous que, diante do calabouço moral
em que se encontra o Brasil, a anarquia é a única saída para o nosso país.
Estes grupos são contra qualquer forma de organização, de leis, de hierarquia e
de poder constituído. É engraçado, pois se pensarmos com algum desvelo, logo concluímos
que até a anarquia precisa de uma dose mínima de organização para existir. Do
contrário, como seria possível um ato orquestrado e sincronizado em que o grupo
anarquista Anonymous deflagrou ataques cibernéticos simultâneos em mais de uma
dezena de capitais mundiais? Da mesma forma, apesar do entendimento de que o
Black Bloc não é uma entidade e sim uma tática de manifestação desorganizada,
como poderiam os Black Blocs organizar manifestações e atos de solidariedade
uns aos outros em tantas cidades do Brasil, sem um mínimo de organização? Black Bloc é o nome dado a uma
estratégia de manifestação e protesto anarquista, na qual grupos de afinidade, mascarados e vestidos de preto se
reúnem com objetivo de protestar em manifestações, conferências de
representacionistas entre outras ocasiões, utilizando a propaganda pela ação para questionar a ordem do sistema
vigente. Com origem na Alemanha na década de 70, sua atividade no Brasil está
invariavelmente relacionada a saques e destruição de prédios públicos, bancos,
lojas e escritórios, o que se convencionou chamar de vandalismo criminoso.
Estes grupos querem nos fazer crer que não têm uma liderança que fale por eles
ou alguém que os represente, o que me parece inverossímil, face aos atos de
vandalismo bem orquestrados, geralmente organizados pela internet. Que a
liderança está - ao menos até aqui - convenientemente no anonimato, eu não
duvido, mas daí a acreditar que não haja liderança, já são outros quinhentos...
mascarados. Observando com mais atenção a evolução destes movimentos desde o
seu surgimento no Brasil, nas manifestações de junho passado, percebo certa
trajetória ascendente e compassada, que em nada faz lembrar um grupo
desorganizado anarquicamente. Agora mesmo vimos um coronel da PM, sozinho e sem
qualquer equipamento de proteção, ser brutalmente agredido por quase 70 destes
indivíduos enfurecidos, que o atacavam com paus, pedras e barras de ferro, como
a um animal. Aliás, nem um animal pode ser atacado assim, covardemente.
Saliente-se que este policial militar de alta patente, era o negociador, o
elemento que habitualmente ia à frente, de cara limpa e sem proteção de capacete,
escudo ou arma, com a missão de possibilitar a mobilidade e a proteção dos
próprios manifestantes. Este episódio lembra os diversos atos de agressão e
violência entre gangues de torcidas organizadas que, não raro, terminaram em
mortes por espancamento. Porque com “manifestantes” seria aceitável? Isto é
feito em nome de uma ideologia, de uma reivindicação? Que mensagem queremos
passar, permitindo situações como esta? Fatos assim deveriam servir como alerta
para que a sociedade faça alguma coisa e sem demora. No entanto, as sequelas
dos tempos da ditadura fazem com que permaneçamos na letargia, cheios de dedos
ao punir qualquer ato de manifestação popular, com o receio de estarmos
reprimindo o direito à livre expressão. Com isso, perdemos a noção do limite
tênue entre direito e dever. O Brasil está acostumado a enviar grande
contingente de militares para missões de paz em diversos países, como o Haiti,
por exemplo. Essas missões têm como objetivo principal assegurar a ordem e
fazer prevalecer as leis daquele país. Interessante observar que, numa situação
dessas, quando se trata de outro país, não sentimos o menor constrangimento em
utilizar o nosso exército como ferramenta para manter a ordem, mas quando se
trata do Brasil, mesmo quando vivemos situações idênticas de descontrole com o
flagrante desrespeito à ordem pública e à preservação da propriedade pública e
privada, não admitimos utilizar as mesmas ferramentas. Afinal, para que serve o
nosso exército e a gorda verba com que o mantemos com nossos pesados impostos,
se não para defender a sociedade de seus inimigos, internos ou externos? Esse
constrangimento fica patente no posicionamento titubeante assumido pelas
autoridades, especialmente pela presidente Dilma que, certamente por ter sido
guerrilheira nos tempos da ditadura militar, julga incoerente combater com mais
veemência manifestantes que se fazem valer hoje de práticas semelhantes. Esse
posicionamento dúbio e a falta de ações concretas por parte das autoridades,
além de fomentar o fortalecimento deste comportamento criminoso, inocentemente
travestido de manifesto de livre expressão, possibilita que facções criminosas
também utilizem estes atos para marcar território e demonstrar poder, como fez
recentemente o PCC ao fechar a rodovia Fernão Dias, na saída de S. Paulo,
pegando carona na revolta de moradores da região pela morte inaceitável de um
adolescente pela polícia. E o pior é que, quanto mais tempo passa, mais este
verdadeiro câncer se alastra e se fortalece, e depois vai ser muito mais difícil
– senão impossível - controlar e reverter a situação. Em inúmeros países, a
história nos mostra situações semelhantes de grupos que surgiram igualmente
travestidos de revolucionários e anarquistas - como é conveniente - geralmente munidos
de ideais comunistas e acabaram por culminar em perigosos governos ditatoriais,
cujo apego ao poder logo se torna visível. Estes movimentos surgem pequenos e
são geralmente subestimados. São apenas jovens manifestando suas ideologias, o
que é saudável - dizem alguns. Mas, neste caso, é de se pensar na possibilidade
real de que a anarquia e o caos interessam a muitos grupos – alguns até de
outros países - que perseguem obcecadamente o poder, e utilizam veladamente estes
movimentos como instrumento de obtenção dos seus objetivos e defesa dos seus
interesses. Quanto mais caos e desrespeito à ordem e às leis, maior a
indignação da sociedade e, por conseqüência, maior a sua predisposição a
aceitar um governo ditatorial. E o que realmente interessa à sociedade - as
mudanças reais, especialmente na política - fica ainda mais distante, depois do
compreensível esvaziamento das manifestações legítimas do povo nas ruas. Não é
por acaso que vemos, em alguns momentos, a polícia assistir impassível, os
vândalos barbarizarem patrimônio público e privado, como que a desafiar: -Estão
vendo? Acham que a polícia é truculenta, então deixa quebrar tudo pra eles
perceberem a necessidade da ordem. Aliás, a polícia - não sei se por estratégia
(duvidosa) ou se por incompetência - diante de um quebra-quebra, geralmente enfia
os pés pelas mãos: consegue bater e prender quem não participa dos atos de
vandalismo e simplesmente assistir impassível os mascarados quebrarem tudo, e
pra fechar com chave de ouro, de vez em quando ainda mata um ou outro Amarildo de
forma absurda. Essa situação é, a meu ver, extremamente perigosa e não deveria
ser subestimada. O dinossauro pode estar quebrando o ovo. O filhote é até bonitinho,
mas depois... Godzilla talvez seja o maior vândalo do cinema. Destruía tudo e
nem sabia porquê. A diferença entre ele e os nossos vândalos Blocs é só a
máscara. E assim, assistimos estarrecidos, a cada dia um novo capítulo da
ascensão destes grupos e a perigosa aceitação e permissividade de determinados
setores da sociedade, alguns absolutamente improváveis, por serem de onde menos
se esperava tal receptividade. Dando mostras claras de que não se trata de um
movimento anencéfalo e desorganizado, os Blocs vêm pegando carona em todos os
movimentos que têm alguma expressão na mídia nacional e internacional, enquanto,
por outro lado, deixam, estranha e inexplicavelmente de se manifestar diante de
situações de absoluta indignação, como a morte do servente Amarildo no Rio e do
adolescente em S. Paulo, ambos pela polícia militar, o acolhimento dos embargos
infringentes pelo STF, que culminou em novo julgamento dos réus do mensalão, o aumento absurdo do IPTU de
S. Paulo – enquanto o movimento Passe Livre reivindica 20 centavos e pede a
surreal tarifa zero – entre outras situações igualmente estarrecedoras, diante
das quais, os Black Blocs ficaram misteriosamente inertes. No caso da
manifestação dos professores do Rio e o resgate dos cães beagles no laboratório
do Instituto Royal na cidade de S. Roque, no interior paulista, os mascarados
não perderam tempo. Em ambos os casos, o embate com a polícia e os atos de
vandalismo no final, foram recorrentes. No caso da invasão do laboratório, pelo
menos até agora, não tivemos conhecimento de que houve acolhimento dos
mascarados por parte dos ativistas, mas no caso dos professores, foi diferente.
É claro que o professor não é condignamente remunerado - nem prestigiado ou
respeitado - não obstante desempenhar papel de extrema importância na educação,
que é – ou deveria ser - a base da sociedade de qualquer país, mas é pertinente
observar que no novo Plano para Docentes do RJ, um professor em início de
carreira, com carga de 40 horas semanais, ganhará R$4.147,00, enquanto o seu
colega de SP, nas mesmas condições, ganha R$2.600,00. A hora/aula do RJ é a
mais alta entre todas as capitais. Será que os docentes paulistas que se
solidarizaram com os colegas cariocas em suas reivindicações sabem disto? E o
mais surpreendente é que, apesar dos atos violentos dos últimos dias, os
descontentes professores municipais do RJ em greve, aprovaram no último dia 9
uma resolução em que defendem incondicionalmente os vândalos dos protestos do
Rio. Isto é que é “corporativismo” levado ao extremo. Em outras manifestações,
o movimento começa pacífico e descamba para o quebra-quebra no final, com grupos
infiltrados que nada têm a ver com as reivindicações. Neste caso, não há mais
como dissociar o movimento dos professores, dos Black Blocs cara tapadas. Temos
agora o movimento dos Mestres Blocs. Realmente, uma verdadeira lição de mestre.
Quando vem justamente dos mestres uma lição de que é correto depredar com
violência patrimônio público e privado, em manifestos completamente desprovidos
de uma reivindicação - e isto não quer dizer que, se tivessem uma, a violência
seria legitimada – passamos a questionar o papel do educador das nossas
crianças e jovens, tão carentes de valores e limites, no nosso Brasil de hoje.
Esse é o futuro que estamos escrevendo para o nosso país? Que sociedade
consegue evoluir sedimentando valores que legitimam a subversão de deveres coletivos
em detrimento de direitos individuais? Assim como o pai permite que o filho
adolescente cometa crimes e infrações com a intenção torta de fazê-lo um homem,
parte da sociedade permite equivocadamente que os Blocs vandalizem livremente,
passando a mão em suas cabeças mascaradas, saudando o tão esperado surgimento
de jovens com “ideais”. Mas que ideais serão estes? Quebrar por quebrar, tudo
que encontrar pela frente, inclusive pessoas? Não devemos deixar de observar
que em todos os outros países onde os Black Blocs atuam, em situações de
extremo vandalismo e violência como as que ocorrem no Brasil, o tratamento a
eles dispensado é absolutamente diferente, pois não há - nem deveria haver -
nenhum constrangimento em simplesmente aplicar a lei a quem a ela desobedece. Acho
que devemos refletir sobre o que é pior para uma sociedade: jovens “eternamente
conformados”, trabalhadores que contribuem com seu talento e criatividade para
o desenvolvimento (seu e da sociedade) ou Godzillas anarquistas, “eternamente
desempregados”, cujo único ideal é a desconstrução, vivendo numa sociedade sem
regras e sem governo? Será que pode subsistir uma sociedade sem leis, sem meios
de produção, sem polícia e sem governo? Acredito que nem as tribos da
pré-história tinham (des) configuração semelhante. E assim caminha a humanidade
– em uma avenida qualquer. Se no Rio o culpado é o Cabral, em S. Paulo a culpa
é do Alckmin, em Belo Horizonte o culpado é o Lacerda e no Brasil a culpa é da
Dilma. Mas na verdade, quem tem razão mesmo são os cariocas: realmente, é tudo
culpa do Cabral. O Cabral que em 1500, teve o azar de descobrir isto aqui!
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