quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

DESABAFO DE UM BOM MARIDO - Luís F. Veríssimo




Minha esposa e eu sempre andamos de mãos dadas. Se eu soltar, ela
vai às compras.

Ela tem um liquidificador elétrico, uma torradeira elétrica, e uma
máquina de fazer pão elétrica.
Então ela disse: Nós temos muitos aparelhos, mas não temos lugar
pra sentar. Daí comprei pra ela uma cadeira elétrica.

Eu me casei com a Sra. Certa. Só não sabia que o primeiro nome
dela era Sempre.

Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de
interrompê-la.
Mas tenho que admitir, a nossa última briga foi culpa minha. Ela
perguntou: O que tem na TV? E eu disse; Poeira.

No começo Deus criou o mundo e descansou. Então, Ele criou o homem e
descansou.
Depois, criou a mulher. Desde então, nem Deus, nem o homem, nem o
Mundo tiveram mais descanso.

Quando o nosso cortador de grama quebrou, minha mulher ficava sempre
me dando a entender que eu deveria consertá-lo.

Mas eu sempre acabava tendo outra coisa para cuidar antes, o
caminhão, o carro, a pesca, sempre alguma coisa mais importante para mim.
Finalmente ela pensou num jeito esperto de me convencer.
Certo dia, ao chegar em casa, encontrei-a sentada na grama alta,
ocupada em podá-la com uma tesourinha de costura. Eu olhei em silêncio por
um tempo, me emocionei bastante e depois entrei em casa.
Em alguns minutos eu voltei com uma escova de dente e lhe entreguei.

-Quando você terminar de cortar a grama, eu disse, "você pode
também varrer a calçada".

Depois disso não me lembro de mais nada. Os médicos dizem que eu
voltarei a andar, mas mancarei pelo resto da vida.

O casamento é uma relação entre duas pessoas na qual uma está
sempre certa e a outra é o marido...

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