sábado, 31 de julho de 2010

LEMBRANÇAS DO FUTURO (1995)


Sentado próximo à janela, era como se naquele momento o tempo tivesse parado, enquanto na minha mente, imagens de um passado distante, passavam como cenas de um filme.

Naquela noite, um garoto sentado na areia, à beira do mar, olhava para o céu, na procura inútil de algum disco voador, que nunca havia visto, imaginando como seria viajar por aquele espaço infinito, que apesar de parecer imensamente negro, não haveria de ser assustador, pois tinha a luz da lua e das estrelas.

Pensava nos planetas e em seus possíveis habitantes. Vênus, azul como o mar, Saturno e suas luas, Mercúrio, como sangue, Júpiter e sua imensidão.
Da lua, imaginava como seria seu outro lado, eternamente fadado à escuridão.

De súbito, uma luz incandescente, invade a janela junto a mim. A turbulência me estremece e volto enfim à realidade. Por instantes me perdi, divagando sem controle, num tempo remoto. Pela janela, vejo agora que a terra,
azul como o céu que aquele garoto contemplava, vai ficando cada vez menor e mais distante, e cabe agora no seu bolso.

O cometa que acabara de passar, já vai longe, deixando um rastro luminoso pelo espaço que antigamente era vazio, e hoje é entrecortado por brilhantes naves e foguetes. A Lua está cada vez mais próxima e já posso ver suas crateras. Observo as cidades e o fluxo ininterrupto de naves e pessoas, num pulsar frenético. A gigantesca Estação Espacial paira teimosa no ar, como aquele beija-flor de outrora, desafiando a gravidade, que mais uma vez, não foi obstáculo para a engenhosidade do homem.

Um tanto atônito, desembarco pelo túnel de vácuo. Estou na Lua. A mesma Lua que um dia aquele garoto imaginou tão distante e misteriosa. Hoje vivo aqui, e justamente no antigo lado escuro, que agora também é iluminado, devido ao movimento de rotação artificial. Às vezes, gosto de me sentar à beira de uma cratera, olhando para o céu, vendo a terra tão distante. O futuro é inevitável, mas aquele garoto permanecerá para sempre nas lembranças de um passado que não voltará jamais. Porque aquele garoto, sou eu.

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