segunda-feira, 19 de julho de 2010

MUITO PRAZER (2006)



Não, não gosto do morno, do mais ou menos, do quarenta.
Gosto do oito e do oitenta.
De me entregar por inteiro, me emocionar.
De provocar emoção.
Se tenho água nos olhos é porque tenho coração.
Há dias em que me sinto nuvem, cinza,
Como se fosse um corcel
Que se perdeu de seu dono em algum lugar.
Uma águia presa entre arranha-céus,
Sem destino, sem espaços pra voar.
Há outros em que me sinto sol,
Que aquece e ilumina, singular.
Perdido entre o bem e o mal,
Vivo a cada dia
A luta constante entre a calmaria
E o vendaval,
E deixo minha alma indócil, livre a galopar no mar.
Não quero te assustar,
Te deixar tensa.
Sou melhor do que você pensa
E pior do que pode imaginar.
Gosto dos venenos mais lentos,
Das bebidas mais fortes,
Das drogas mais poderosas,
Mas dos cafés mais amargos,
Prefiro os com leite e aspargos,
Tenho um apetite voraz... e os delírios mais loucos.
De um penhasco você pode até me empurrar,
Que eu vou dizer: -E daí? Eu adoro voar...
Mas tenho sempre os pés no chão, os olhos no horizonte e a mente no infinito.
Eu acho tudo lindo e bonito.
Assim eu sou feliz
Aberto e receptivo como uma parabólica de televisão,
Sem pré-conceitos, um eterno aprendiz,
Em constante evolução.
Vivo com sinceridade e bom humor,
Acima de tudo e apesar de tudo.
Um espiritualista vivendo cada momento presente,
Sem passar pela vida simplesmente.
Totalmente zen, mas sem tempo a perder, nunca desisto.
Insisto,
Dando tudo de mim, para fazer sempre o melhor,
Em todos e com todos os sentidos.
Ando perdido.
Arrisco-me, mas vivo,
Pois viver é arriscar-se a perder tudo.
Já fui surdo e fiquei mudo.
Mas hoje falo e grito.
Não, eu não sou só mais um cara.
Eu sou o homem que te chama de linda ao invés de gostosa.
Gostosa, só no teu ouvido, sussurrando baixinho,
Te deixando maluca,
Enquanto te ensino a dirigir,
E roço minha barba de três dias na sua nuca,
Mordiscando tua orelha.
Eu permaneço acordado só para te observar dormindo.
Faço o que me dá na telha,
Te beijo com amor na boca,
E com respeito na testa.
Sou o homem que te acha a mulher mais bonita do mundo
E te faz festa
Mesmo quando você está sem nenhuma maquiagem
E insiste em te segurar pela cintura.
Eu sou aquele que esquenta as suas mãos
Pinta teus quadros, aquarelas
E pinturas.
Sou aquele que te faz perguntas, faz suas unhas, faz comida
Te leva o mundo numa bandeja quando você acorda
E te chama de querida.
Aquele que não te deixou apodrecendo ali
Num canto, em qualquer lugar,
Onde você não pudesse incomodar,
Não, não: eu cheguei meia hora antes e trouxe tulipas cor de laranja e amarelas.
Depois ainda te levei para algum lugar cheio de pernilongos e estrelas.
E te avisei quando teus olhos borraram de rímel.
Eu sou diferente de tudo o que é errado
Em teu perfeito mundo e em outros mundos perfeitos.
Não te poupei, porque sei que você é esperta.
Você diria que eu salvei sua vida se não soasse tão dramático.
E se isso não fosse mentira – a sua vida velha não merecia ser salva,
Sem perceber, você vivia no piloto-automático
E nem via o tempo passar,
A vida se esgotar.
E eu te trouxe uma vida novinha
Que inventei só pra você e deixei aberta,
Pra você entrar.
Eu não faço planos ou promessas, só surpresas.
Te ensinei a gostar de surpresas e a esperar.
Te deixo esperando e não deixo nada muito claro.
Você voltou a roer unhas.
Você nunca sabe, mas a verdade é que eu estou sempre ali, ou logo adiante.
Eu minto pra não te chatear e não te deixo descobrir.
Te faço rir.
Eu não sou teu Príncipe porque é muito chato
E cedo ou tarde sempre acaba virando sapo.
Eu existo fora do teu castelo e povôo teus sonhos,
E você sabe que seríamos bons amigos,
Bons parceiros e bons inimigos,
Mas você prefere ser a minha garota cor-de-rosa,
A minha borboleta azul,
A minha joaninha
Vermelha e preta, com bolinhas.
Você esperou por mim,
Porque eu já esperava por você.
Porque te ouço como se te entendesse,
E falo como que soubesse
O que você queria escutar,
Muitas vezes não digo nada,
Porque entendo a necessidade dos silêncios.
Seremos importantes na história um do outro, para sempre,
Independente de tudo que estiver para acontecer.
Porque é comigo que você quer envelhecer.
Eu te digo tudo e não te digo nada,
Te faço soltar o choro e a gargalhada,
Mostrar o medo e não desejar parecer tão invencível.
Saber que ainda é cedo
Pra simplesmente acreditar no impossível.
Sou a razão e o coração.
Sou teu escudo e sentimento.
Transparente a cada momento,
Apesar de todo o risco que isso possa significar,
Tento todos os dias, apenas, docemente, viver, sentir e amar.
De nada adianta meu coração vazio cercar
Ou minha alma imaculada
Economizar,
Trilhando uma estrada
Inacabada,
Se não me mata o primeiro amor,
Por saber
Que só com o último vou morrer.
E quando este amor,
Este romance, chegar ao fim,
Que não seja instantâneo nem indolor,
Pois se for assim,
Se assim for,
Não é romance, nem era amor.
Vivo a lutar,
Eterno refém da saudade que me sufoca,
Da rotina que me acomoda
Do medo, que me impede de tentar.
Não quero que seja para sempre,
Mas luto para ser até o fim.
Muito prazer.
De tudo o que sei sobre mim,
É só o que posso dizer,
O resto,
Descubra você.

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